"Tenho um objectivo: destruir o que conseguir, o mais possível, e não posso ser traído pelos meus sentimentos de simpatia, misericórdia ou algo do género." Eric Harris - o autor destas linhas - e Dylan Klebold queriam matar pelo menos 500 pessoas e levar a sua onda de destruição muito além do subúrbio de Colorado onde viviam, nos Estados Unidos. Acabaram por assassinar 12 alunos e um professor no liceu de Columbine, ferindo ainda 24 pessoas..Os diários destes adolescentes de 18 e 17 anos e outros papéis, com textos e desenhos, revelam os preparativos para o massacre que deixou a América incrédula. Sete anos depois desse dia, 20 de Abril de 1999, foram disponibilizados na íntegra para quem os quiser consultar. São mil documentos inéditos, recolhidos pela investigação policial - que se vão juntar a outros 20 mil já conhecidos. Também há vídeos e gravações , mas esses mantêm-se reservados porque "a sua divulgação poderia ter consequências devastadoras. São muito perturbadores", justificou o xerife do condado de Jef-ferson, Ted Mink.."É cool odiar", escreveu muitas vezes Eric Harris, "estou cheio de ódio e adoro. Odeio toda a gente, e as pessoas devem ter medo de mim se sabem o que é bom para elas." Os documentos agora divulgados incluem também os recibos da compra de propano para explosivos na manhã desse dia 20 de Abril e um trabalho de Harris sobre o nazismo, passando por mapas, listas de tarefas - "conseguir mais munições, rechear as bombas, comprar pregos, conseguir sacos grandes" - e desenhos, alguns de armas de todos os calibres. Harris fantasiava, aliás, ser a própria pistola: "Sou uma arma, feita para matar seres humanos.".Noutro parágrafo, o mais velho, expansivo e prolixo dos dois adolescentes - Harris, uma vez mais - escreve que planeiam acumular explosivos para "rebentar com metade do país". Idealizavam o feito: "Será como os distúrbios de Los Angeles, o atentado de Oklahoma, a II Guerra Mundial e o Vietname, tudo misturado." Tenebrosa, face aos acontecimentos que se seguiram dois anos depois, a 11 de Setembro de 2001, é a passagem em que o adolescente revela os seus planos caso ele e Vodka - alcunha pela qual tratava Dylan Klebold - sobrevivessem ao ataque ao liceu. "Vamos para uma ilha algures, ou para o México ou Nova Zelândia, onde os americanos não nos possam apanhar. Se não existir um sítio assim, então vamos desviar um avião com bombas e despenhá-lo em Nova Iorque, connosco lá dentro.".Dylan e Eric tinham, sem dúvida, emitido vários sinais de que algo não estava bem: em páginas por eles construídas na Internet, em trabalhos escolares, no roubo de mate- rial informático pelo qual chegaram a ser detidos e assistidos por psiquiatras. Curiosamente - cinicamente? -, enquanto frequentava um curso de autocontrolo, Eric Harris escreveu num trabalho para o mesmo: "O mais interessante neste curso foi encontrar formas de controlar a ira." No dia da tragédia, 20 de Abril, surge apenas uma hora sublinhada no diário: 11.10, a mesma que os dois adolescentes escolheram para abrir fogo em Columbine.